A paixão por Joana e pela música de ALEX FX
Era projeto antigo. Criar uma banda-sonora para um dos mais belos filmes mudos de sempre, “A Paixão de Joana D’ Arc”, realizado por Carl Dreyer em 1929, e baseado nos autos originais do seu julgamento. Mas a vida segue o seu curso e vão-se metendo coisas pelo meio.
Acabou por ser finalizado e estreado, o ano passado, no âmbito do festival Porto/Post/Doc, sendo agora disponibilizada, em edição limitada de duplo CD, a banda-sonora original, síntese de classicismo e eletrónicas, desenvolvimento de uma nova perspetiva sónica e visual sobre a obra.
Multi-instrumentista e produtor, Alexandre Fernandes, ou seja Alex FX, tem estado conectado com as músicas eletrónicas desde o inicio dos anos 90, nas mais diversas variantes, das aproximações mais dançantes, às dimensões mais ambientais ou minimalistas, sendo o álbum “Underdub” (1997), a sua obra mais conhecida desse período.
Em 2016 haveria de lançar outro excelente disco, “Echomental 1”, música densa, pulsante, padrões rítmicos repetitivos, mas sem serem óbvios, e texturas cerradas dissolvendo-se entre digitalismos e vozes convidadas como David J. (Bauhaus, Love & Rockets).
Pelo meio, sempre discreto, integrou outros projetos (Mute Life Department, Mr. Spock) e foi desenvolvendo trabalho de produção e compondo bandas-sonoras para curtas e médias metragens. Não é por isso surpreendente o passo agora encetado, com a edição de “The Passion of Joan of Arc - music by Alex FX”.
Há marcações rítmicas eletrónicas a velocidade moderada, entrelaçada por motivos orquestrais. Há notas de piano soltas e climas abstratos. Há coros vocais femininos instituindo um ambiente litúrgico de belo efeito. Há gravidade emocional e uma grande atenção aos detalhes, do qual resulta, na maior parte dos casos, uma música atmosférica minuciosa, entre o analógico e o digital, com motivos melódicos circulares e sequências espaçosas e panorâmicas.
Por vezes pode-se pensar em peças instrumentais de Jon Hopkins, ou, aqui e ali, em ocasiões específicas, no teclado de Ryuichi Sakamoto, na definição ambiental de Max Ritcher ou nas encenações sentimentais de Arvo Pärt, mas a soma das partes é sempre maior do que qualquer componente atomizado. A paixão de Alex FX, pela música, ou por Joana d’Arc, continua totalmente intata.