JULIANknxx e a afro-Europa na Gulbenkian

Foto: Pedro Pina

O artista britânico JulianKnxx, figura do circuito global da arte contemporânea, poderia ter chegado a Lisboa, e ao Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, onde esta sexta-feira inaugurou a exposição “Coro em Rememória de um Voo”, e imposto uma discursividade que hoje, quando se fala sobre afrodescendentes, em certos meios, se tornou genérica, ou instrumentalizável, seja por artistas, curadores, comunicadores ou instituições, e dar-se por satisfeito. Mas não. Supera armadilhas. Desconstrói perspetivas dominantes. E quem ganha é o visitante.  

A paragem em Lisboa insere-se num projeto global por nove cidades europeias com histórias coloniais. E para mostrar pontos de contato, nas feridas em aberto, tensões e exclusões, mas também nas interações e resistência, existe uma instalação-vídeo-filme, expondo essa multiplicidade de experiências através de sons, música, relatos, imagens.

Mas também existem singularidades em cada território, e, em Lisboa, JulianKnxx procurou-as na área metropolitana (Cova da Moura e Cova do Vapor), envolvendo-se com atores locais, tentando perceber o emaranhado de relações, pressões e crueldades, muitas delas invisibilizadas ou normalizadas, e devolvendo-as em instalações audiovisuais interpeladoras, que nos restituem outras narrativas, corpos e existências.

Um desses atores que lhe serviram de guia foi Tristany Mundu, que acabou por ser desafiado para apresentar a primeira exposição a solo, “Cidade à Volta da Cidade”, depois do coletivo Unidigrazz. Para muitos será desconhecido, e para quem o conhece do hip-hop, a incursão será novidade. Mas a partir do álbum “Meia Riba Kaixa” (2020) a forma de falar de si, e dos que o rodeiam, com universalidade, já lá estava.

O mesmo com a forma precisa como comunica com signos visuais, e como poesia e política se entrelaçam no seu modo de sentir, viver e ocupar os espaços. Agora fá-lo com peças têxteis e um conjunto de filmes que refletem vivências de uma das zonas, a linha de Sintra, da Lisboa metropolitana. O voo de Tristany continua. Cada vez mais alto.   

Para além de Tristany, JulianKnxx, convocou Selma Uamusse, Paulo Pascoal, Rafael Oliveira e Jesualdo Lopes, para a curadoria do programa público, a ter início hoje, e a desenvolver até ao termino da exposição. O CAM está vivo e recomenda-se.

Até 2 de Junho.

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