FKA TWIGS: Desafiante e Erotizante
A sua estreia há mais de dez anos foi eletrizante, com vários EPs e o magnífico álbum “LP1” de 2014, onde impunha um pop eletrónica, em câmara-lenta, retorcida e futurista, que lhe granjeou culto.
Vi-a ao vivo nesse ano, em Londres, e entrevistei-a, e era nítido que tinha tudo para dar certo: ideias arrojadas, produtores certeiros (Arca, Clams Casino) e uma presença cénica tão sensual quanto alienígena, num universo singular que viria a marcar muitas figuras vindouras (Sevdaliza, Kelsey Lu, Lafawndah, Conan Osiris).
Depois veio a gestão da fama, inseguranças, transformações emocionais e físicas e alguns bons lançamentos (como o álbum “Magdalene” de 2020) embora sem a mesma demanda por novos horizontes. Essa veia desafiante e erotizante é recuperada em “Eusexua”, álbum agora editado, influenciado pelas noites dançantes mais obscuras de Praga, ode ao êxtase, explorando traumas, mas também momentos de profunda clareza, numa jornada de entendimento e cura, que tem tanto de individual como de universal.
Mais do que um tributo ao hedonismo como escape, transforma o ritual da dança num espaço de transfiguração e espiritualidade, fazendo uso de uma voz versátil, de ritmos eletrónicos hipnóticos, e camadas ambientais complexas que procuram ângulos nem sempre previsíveis, com várias colaborações precisas (Two Shell, Koreless, Eartheater ou Nicolas Jaar).
Na entrevista de há dez anos dizia que a dança havia sido uma paixão de sempre, funcionando como território de libertação. Na infância e adolescência, em casa, a mãe, uma antiga professora de dança, cantava com ela e dançavam ao som de Billie Holiday ou Marvin Gaye. Dir-se-ia que, muitos anos depois, essa junção entre as artes do corpo e música conhece um novo e desafiante capítulo. Magnífico.