Onde Andam as Alternativas a Moedas?

No início de Outubro de 2021, uma semana depois das autárquicas, escrevi um texto sobre Carlos Moedas – que acabara de ganhar as eleições – que foi contestado, porque havia que lhe dar o beneficio da dúvida. O texto chamava-se “Mudar para nada mudar”.

 

“A cidade encarada como mero ‘produto’ foi o que levou Medina ao sucesso e, depois, a ser vítima dele. Moedas vai pelo mesmo caminho, apesar da ideia de mudança que paira no ar. Medina, num primeiro momento, ganhou impulso por causa do turismo de massas, a atração de investimento estrangeiro e de grandes eventos como motores da “marca” Lisboa. Durante anos, os beneficiários desta estratégia e os que podiam “consumir” esse tipo de cidade aplaudiram-no. A cidade encarada como ‘produto’ parecia em andamento triunfal. Depois, começaram os efeitos perniciosos do ‘sucesso’. A especulação imobiliária. A desregulação do mercado. O turismo de massas a transformar-se em monocultura. A expulsão dos que não tinham meios para viver nesse ‘modelo’ de urbe. E a incapacidade de fazer participar os cidadãos nas decisões.

 

Na parte final do seu mandado, Medina, tentou adotar um discurso mais ameno, na forma como se falava da habitação de custo controlado, ou no pensar um turismo mais sustentado, em prol de uma cidade mais compacta, de escala humana. Foi tarde. O beneficiado foi Moedas. Propôs algumas coisas que nunca irão acontecer – como a eliminação da barreira ferroviária entre Algés e Cais do Sodré – mas em termos gerais baseia-se nos mesmos equívocos. A “amazing city”, a “smart city”, ou os enunciados da inovação, empreendorismo e captação de talento e investimento estrangeiro, são baseadas em paradigmas que foram sendo questionados desde a crise económica de 2008, inclusive em cidades que já sofreram os mesmos efeitos que Lisboa (Amesterdão, Barcelona, Berlim) e que nos últimos anos têm procurado caminhos alternativos, porque as condições estruturais que reproduzem hoje as grandes desigualdades nas cidades não só não são atenuadas dessa forma, como são muitas vezes reforçadas.”

 

Quatro anos depois, Lisboa está pior. Cada vez mais viver na cidade não significa ter direito a ela para uma larga fatia de cidadãos. E o problema é que as alternativas a Moedas também parecem inertes. Ao nível do diagnóstico, e do repensar a cidade, tem havido algumas iniciativas interessantes de João Ferreira, candidato da CDU, mas sem grande visibilidade. E a união das restantes esquerdas à volta de Alexandra Leitão ainda não produziu nada que se veja. Politicamente seria necessária coragem de afirmar que o consulado do PS também produziu equívocos, que agora urge emendar, e se afirmasse numa direção totalmente distinta da de Moedas, sendo também precisas medidas concretas (habitação, mobilidade e transportes, cultura, espaços públicos, lixo, serviços públicos, etc) para agitar que ainda não se viram. As eleições são daqui a dois meses. Criticar o consulado de Moedas é relativamente fácil. Mas não chega. Se não for agora que se projeta um outro modelo de cidade será quando? Não basta mudar de nomes. Há que mudar de ideias. De contrário será, mais uma vez, mudar para nada mudar.

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