A chegada do Brutalismo a Portugal
Nenhuma singularidade neste governo. Está a seguir o figurino de outros contextos mundo fora, alguns deles, incentivados pelo fator Trump dos últimos meses.
São as vantagens de estarmos sempre atrasados nas tendências. As leituras tornam-se fáceis. Primeiro a AD recusou qualquer proximidade, ou acordo, com o partido neofascista. Depois a aproximação, e normalização, foi acontecendo.
O álibi é sempre o mesmo. Sinalizar potenciais antagonistas, fáceis de manobrar, com pouca força política, como os imigrantes mais pobres. E também os mais vulneráveis de uma forma genérica, sendo que, neste caso, as categorias tradicionais já não servem para os situar, face à proletarização da classe média.
Desta forma este governo cumpre três princípios: 1) Participa na “guerra global aos pobres”, às claras, assumindo-se sem pestanejar que aqueles que ficaram para trás na dinâmica neoliberal global, simplesmente não interessam. De Gaza a loures, o sinal está há muito dado: podem ser mandados borda fora sem piedade.
2) Desmantelamento das conquistas progressistas, ao nível da cidadania, lutas de género, antiracistas, educação, cultura, ciência e ecossistema comunicacional. E também dos direitos e garantias dos trabalhadores face ao patronato.
3) A ideia é enfraquecer os núcleos clássicos de crítica face aos poderes vigentes (academia, jornalismo, cultura, educação). Sintoma disso, a “reorganização administrativa” – a coisa tem sempre nomes assim – como a FCT, sempre com a narrativa da “flexibilização” ou “fusão”, que não quer dizer outra coisa senão esvaziar ou extinguir a função pública da ciência, transformando-a em produto.
Dessa forma o governo agrada à base de apoio mais grosseira e conservadora, e aos humilhados e impotentes que direcionam a sua zanga e frustração na direção daqueles que consideram imediatamente inferiores, ou a quem não reconhecem mérito – intelectuais, artistas, jornalistas, professores - ou a quem invejam a liberdade de pensar pela sua cabeça. Os brutalistas são assim: autoritários, impondo relações de força e exploração, com os outros ou o planeta, governando como se estivessem à frente de uma multinacional. Não nasceram de geração espontânea. Estão por aí há muito tempo. A diferença é que agora é tudo às claras.
Tudo isto cria distração. Dessa forma os verdadeiros problemas – habitação, redução das desigualdades, saúde, ambiente – nunca são enfrentados. E o que faz o resto do país? Vai refrescar ideias que isto agora, já se sabe, mete-se Agosto.