O olhar de fora sobre a revolução portuguesa

Foto: VB

5 de Abril de 1974 e os dias que se seguiram. A revolução na rua. a prisão dos Pides. Vindas do exílio. O 1º de Maio em festa. A experiência da democracia a ser vivida. Campanhas de dinamização cultural no mundo rural. Ocupação de herdades. As primeiras eleições livres. Independência das ex-colónias. Os retornados. Ou o Verão quente de 75.

Entre Abril 74 e Novembro 75, Portugal foi o centro do mundo, e fotógrafos chegaram de todo o lado para reportar essa inquietação, Sebastião Salgado, Dominique Issermann, Giorgio Piredda, Serge July, Sylvain Julienne, Alain Mingam, Fausto Giaccone e outros.

Já vi algumas exposições sobre esses dias, mas “Venham Mais Cinco – O Olhar Estrangeiro Sobre a Revolução Portuguesa”, que inaugurou este fim-de-semana, no Parque Empresarial da Mutela, em Cacilhas, com curadoria de Sérgio Tréfaut (in memoriam Margarida Medeiros), é provavelmente a melhor, pelas excelentes fotos de grande formato, a montagem, a relação com o espaço e a organização temática clara.

Há poucas semanas, por alturas do 25 de abril deste ano, partilhei nas redes sociais um pequeno excerto do filme-documentário “Torre Bela” - o famoso episódio da enxada, que se reporta a esse período - que acabou por se tornar viral de forma inesperada, mais de 1m de visualizações, muitos comentários estimulantes, mas centenas deles totalmente desenquadrados com a realidade, desinformados, cínicos ou grosseiros, incapazes de se relacionar com um período de aprendizagem da democracia, onde cidadãos que nunca tinham experimentado a liberdade foram chamados a decidir o seu futuro.

Houve muita improvisação nesse período, mas os olhos brilhavam, porque havendo receio, havia também um grande desejo de futuro. Hoje, passados 50 anos, estamos outra vez num momento liminar. Agora temos rostos de raiva, medo e incerteza. Alguns movidos pela desesperança. É preciso voltar a ganhar confiança de que um outro futuro é possível, para lá dos populismos autoritários e da neoliberalização das nossas vidas. Constatar apenas que estamos na merda já não basta. É preciso desenhar novas causas comuns e cultivar outros horizontes. Aquela exposição dá pistas nesse sentido. Não para se repetir seja lá o que for. Mas para um novo começo.

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