O charme de Destroyer continua intacto

Já não constitui surpresa que o canadiano Dan Bejar, mais conhecido pelo pseudónimo Destroyer, é um dos mais brilhantes cantores-compositores contemporâneos, capaz de nos devolver canções pop de complexidade interior com alcance universal.


No novo álbum, “Dan’s Boogie”, o seu 14º, isso volta a suceder com naturalidade, com ele a revelar, em simultâneo, a familiaridade e a capacidade de surpreender de sempre, com letras idiossincráticas, encarnanando diversos papéis em histórias de desespero, insanidade e humor, com ambientes calorosos e orquestrações luxuriantes. Uma lição de como recuperar a beleza no meio do caos, com elementos de cordas, piano, guitarras e sintetizadores, misto de melancolia jazzística, cenários cinematográficos e explosões dramáticas, com fundo envolvente e elegância sombria.  

A última vez que o entrevistei, em 2017, ao discorrer sobre a sua grande paixão, o cinema, a propósito do filme “A Regra do Jogo” (1939) de Jean Renoir, dizia que era um filme “estranho e negativista”, mas emanando uma “qualidade sonhadora”, reconhecendo essas propriedades na sua própria música. 


Algumas das suas fantasias podem parecem pesadelos, mas a sua forma de cantar teatralizada, e a música espaçosa e idealista, recordam-nos que o mundo continua a ser um lugar de possibilidades.

Em algumas entrevistas tem dito que o novo registo é uma reflexão sobre o envelhecimento, a transitoriedade do tempo e a decadência, mas ele anda a afirmar o mesmo há anos, transformando pelo caminho o absurdo de existir em algo grandioso. Faz parte do charme, que continua intato. 

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