Para Onde Vamos? Vamos Juntos?
Foto: VB
A questão não é o que está consagrado na lei.
Na lei é dito que as praias são públicas e não podem ser privatizadas. É dito que a habitação é um direito e não especulação. É dito que o ambiente é para cuidar e não degradar.
Mas alguém conhece algum território assim, neste momento, em Portugal?
A questão não é, por isso, a lei, mas os vazios entre legalidade e ilegalidade, as exceções criadas, a falta de transparência, a conivência entre poderes políticos e económicos.
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A questão é que modelo de sociedade, de economia e de democracia, estamos a criar, para permitirmos que a gula de alguns vá deteriorando o que é direito de todos.
Esta é uma realidade transversal, mas claro que existem determinados territórios, em certas circunstâncias, que são mais gulosos. É o caso do eixo Tróia-Melides.
Este fim-de-semana algumas dezenas de cidadãos, amantes desse território, juntaram-se para uma ação que incluiu visita guiada pela biodiversidade dunar – ficámos a saber, por exemplo, da existência da camarinha, em risco de desaparecer, que produz bagas brancas, com propriedades benéficas para a memória.
Recolocámos a placa a indicar a praia Aberta Nova (colocando um ponto de interrogação irónico a seguir ao “Aberta”) que tem sido sucessivamente retirada, alegadamente por quem deseja dissuadir o acesso à praia. Recorde-se que o acesso é ladeado pelos terrenos privados da multinacional Costa Terra.
Visitámos também o megaprojeto Pinheirinho, empreendimento turístico de luxo em construção, com hotéis, moradias, apartamentos e campos de golfe. O acesso à praia do mesmo nome é realizado pelo meio do complexo, estando a herdade integrada numa reserva protegida, traço comum de outros complexos que estão a ser desenhados para a região.
O alheamento do bem-comum, as construções devastadoras e os insensíveis atropelamentos ambientais são violentos. Mas o silêncio, a demissão e o encolher de ombros de tantos, perante evidências de degeneração, também dão que pensar.
Não é apenas naquele território que tem de existir um despertar. Não é uma luta fácil, todos o sabemos, mas enquanto houver gente com vontade de mudar, vamos continuar. Vamos juntos?