Quando a voz de JOHN GLACIER nos sussurra ao ouvido

Era um dos álbuns de estreia que mais suscitava curiosidade nestes primeiros meses do ano e cumpre totalmente com as expetativas.


“Like a Ribbon“ da cantora John Glacier, que deu nas vistas nos últimos anos nos territórios de confluência entre rap, soul e R&B, num registo tão familiar quanto experimental, com voz murmurada, como se nos tivesse a cantar ao ouvido, e uma plasticidade sonora mastigada, que a alguns ouvidos poderá soar monocórdica, mas onde na verdade acontece imensa coisa, por camadas, sempre em movimento, numa combustão lenta, por vezes mesmo arrastada, com texturas e ambientes a instituírem um ambiente enigmático.

Por vezes imagina-se que na produção poderia ter estado Burial, ou Dean Blunt, ou Coby Sey com Tirzah, mas a mesma é de Kwes Darko, conhecido também pelos sombreados sonoros obscurecidos.


Há colaborações (Sampha, Eartheater, Flume), mas o destaque vai inteiro para o balanço físico minimalista, para as histórias de vida vagamente surrealistas e para os ambientes enigmáticos, com tanto de nebulosidade como de luminoso, que em vez de instituírem distância com o ouvinte, o convidam a olhar, a sentir o batimento cardíaco, a estar por perto. Excelente.

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