Ensaios, entrevistas, reportagens, reflexões, de hoje, e do passado presente, sobre cultura, música, artes, ideias, sociedade e política. Porque isto anda tudo ligado.
Parar, escutar, respirar: Vijay Iyer & Wadada Leo Smith
Inquietação por todo o lado. Existências que se decidem num apressar constante. Como desacelerar, escutar, respirar e não perder a lucidez, a consciência do que acontece no mundo, num ato de mera alienação? Em parte, foi essa a pergunta que guiou a gravação do álbum “Defiant Life”, por dois músicos consagrados do jazz mais inclassificável, como são o pianista e compositor Vijay Iyver e o trompetista e compositor Wadada Leo Smith.
O jardim da Primavera de David Hockney
“Lembrem-se que não se pode cancelar a Primavera”. Pelo calendário, esta quinta, começa a Primavera. Há cinco anos, em plena pandemia, o inglês David Hockney, um dos artistas vivos mais celebrados, enviou uma mensagem simples ao mundo, através da frase acima transcrita, que acabou por ter grande ressonância, lembrando que os tempos sombrios, tal como o Inverno, não duram sempre. Cinco anos volvidos prepara-se para inaugurar uma retrospetiva na Fundação Louis Vuitton (de 9 de Abril até 1 de Setembro), em Paris, adotando a frase como lema. Com 87 anos, já foi alvo de muitas retrospetivas. Em 2007 assisti a duas: na Tate Britain de Londres e no Pompidou de Paris.
Francisco Vidal e a urgência da arte como ato coletivo
Está sempre a criar. É esse tipo de artista. Dir-se-ia precisar disso com voracidade. Não espanta que tenha duas exposições a decorrer neste momento. A 27 de Fevereiro (até 4 de Maio), estreou no Palácio Anjos, em Algés, E quinze dias depois, na última sexta, inaugurou “Escola Utópica de Lisboa“, Pavilhão Branco, com curadoria de Miguel von Hafe Pérez.
Paul Mason: “Estamos a viver um tempo de pesadelos e não nos devemos esquecer que é nas crises que o fascismo mais opera”
Em 2022 o inglês Paul Mason lançou a obra “Como Travar o Fascismo” onde projetava, a partir dos sintomas já existentes, o que se passa hoje um pouco por todo o mundo, com a liberdade ameaçada por totalitarismos. “É nas crises e nas guerras que o fascismo mais opera e se dissemina”, dizia.
Marie Davidson e o capitalismo de vigilância na pista de dança
Para quem gosta de eletrónica dançante guiada por voz feminina e preocupações sociopolíticas, o novo álbum da canadiana Marie Davidson é uma viagem que vale a pena fazer.
O transe de Rui Moreira
Uma antológica de Rui Moreira no MAAT em Lisboa. Desenho e pintura onde não existe um “antes” e um “depois”, mas um fluxo contínuo onde tudo está em constante mutação, num ato relacional, que resiste a ser concluído.
A paixão por Joana e pela música de ALEX FX
Era projeto antigo do músico e produtor português Alex FX. Criar uma banda-sonora para um dos mais belos filmes mudos de sempre, realizado por Carl Dreyer em 1929. Sai agora, “The Passion of Joan of Arc - music by Alex FX”.
Barreiro - Uma ilha à espera de ser redescoberta
O que é que o Barreiro tem? Um ambiente experimental urbano, festivais, música, uma zona industrial com inúmeras possibilidades de reconversão e uma identidade assentes no associativismo. O que é que o Barreiro não tem? Talvez a capacidade para estimular o potencial que tem entre mãos.
RIGO23 e ZAPATISTAS numa instalação psicadélica
Uma exposição, na ZDB Marvila, em Lisboa, que interroga o legado revolucionário do movimento zapatista mexicano, numa lógica imersiva desenhada por Ringo23 e diversos cúmplices.
JULIANknxx e a afro-Europa na Gulbenkian
O artista britânico JulianKnxx, figura do circuito global da arte contemporânea, expõe no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, “Coro em Rememória de um Voo”, viagem pela afro-Europa, e pela Lisboa metropolitana, num trajeto partilhado, entre outros, com Tristany Mundu.
FKA TWIGS: Desafiante e Erotizante
A sua estreia há mais de dez anos foi eletrizante, com vários EPs e o magnífico álbum “LP1” de 2014, onde impunha um pop eletrónica, em câmara-lenta, retorcida e futurista. Agora lança “Eusexua”, um álbum ao nível desses lançamentos.
Música “DISCO”: Um laboratório de Liberdade
No fim-de-semana, na Philharmonie de Paris, inaugurou uma grande exposição (“Disco – I’m Coming Out”, patente até 17 de Agosto) sobre o fenómeno “disco” que irrompeu no início dos anos 70 nos EUA, para se transformar num acontecimento planetário. Enraizada na cultura afro-americana, herdeira da soul ou funk, o “disco” foi inicialmente visto como efémero, plástico e sem conteúdo político, mas viria a marcar sucessivas gerações pela dimensão sociopolítica e festiva, um laboratório de liberdade para diferentes minorias e lutas, com destaque para os direitos cívicos negros, a comunidade gay e movimentos feministas.
Quando a voz de JOHN GLACIER nos sussurra ao ouvido
Era um dos álbuns de estreia que mais suscitava curiosidade nestes primeiros meses do ano e cumpre totalmente com as expetativas. “Like a Ribbon“ da cantora John Glacier.
LCD SOUNDSYSTEM: “Agora falam bem, mas daqui a meses pode acontecer que nem se lembrem de nós”
O primeiro álbum dos LCD Soundsystem foi editado em Fevereiro de 2005. Completam-se, por isso, 20 anos por estes dias que foi lançado esse disco homónimo, que continua a ser talvez o mais impactante dos anos 2000, com ressonância ainda na atualidade. Quase um ano antes, em Maio de 2004, havia entrevistado, pela primeira vez, James Murphy, quando já se pressentia que os LCD iriam dar que falar. É esse artigo que agora partilho.
FRANCO ‘BIFO’ BERARDI: “Apenas a igualdade pode restabelecer algo humano entre humanos”
O poder já não está no Estado, enquanto organização de vontade colectiva, mas no capitalismo, na sua forma semiótica, psíquica, financeira, dizia o filósofo italiano em 2020. É difícil não lhe atribuir razão.
O ‘Louco’ e os ‘Imbecis’
Nos últimos dias devem ser as palavras que mais se lê por aí, numa menção ao “louco” do Trump e aos “imbecis” que votaram nele.
BaianaSystem: “Améfrica / A Primavera chegou”
É fácil afundarmo-nos na desesperança. Os sinais pelo mundo não são animadores. E depois existem álbuns como “O Mundo Dá Voltas” dos brasileiros BaianaSystem, com uma série de convidados, de Gilberto Gil a Dino d’ Santiago, criando uma energia de alento, prazer e vitalidade.
JOHNY PITTS: “Vi um continente europeu cheio de pessoas como eu. E isso foi uma grande descoberta”
De Moscovo a Lisboa, com passagem por Marselha ou Berlim. No livro Afropeu – A Diáspora Negra na Europa, o inglês Johny Pitts leva-nos por lugares tantas vezes invisíveis, num desafio à nossa percepção da Europa. Entrevista.
STUDIO: Rapazes Suecos na Praia
Originalmente lançado em 2006, o álbum “West Coast” da dupla de culto sueca Studio, foi agora, em 2025, relançado, e soa tão evocativo e futurista como então, mistura de evasão, música de dança e brisa rock. Na altura em que saiu, entrevistei-os.
DAVID LYNCH: Muito mais do que cinema
Quando morreu, há dias, celebrou-se o homem do cinema, mas David Lynch foi muito mais do que isso, compondo um universo singular que viria a influenciar de forma decisiva a música, as artes, a cultura e os seus imaginários, de forma global.